quarta-feira, 31 de agosto de 2011

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Era uma vez uma linda menininha. Ela tinha a vida ideal: com pais carinhosos, brinquedos divertidos, amigos queridos, era inteligente, e tinha longos cabelos escuros que ela adorava. Ela passava horas e horas na frente do espelho, cuidando, penteando, arrumando de milhares de formas os cabelos macios, cheirosos e brilhantes que ela tinha. Então, um dia, ela acordou com bolinhas vermelhas estranhas sobre a pele. Preocupada, sua mãe imediatamente a levou no médico. Tiraram-lhe o sangue, fizeram milhares de exames e sua mãe chorou inconsoladamente em uma consulta que ela teve. Sem entender nada, cansada e desanimada, foi avisada, de forma gentil e agradável, pela mamãe e pelo papai que tinha uma doença que a deixaria fraca e que ela deveria fazer um tratamento, algo que começava com q, para ficar boa. A tal da Q era terrível. O tratamento era estranho, a deixava enjoada e, pior, fez seu cabelo começar a cair. Apavorada, correu para sua mãe com a escova em mãos, queria saber porque seu cabelo tão lindo caia aos tufos. Outra vez, sua mãe chorou. Não soube explicar, não teve outra reação a não ser debulhar-se em lágrimas. Naquele dia, a menina chorou junto dela. Não sabia bem o que era, mas era algo muito ruim que acontecia com ela. Inconsolada, voltou a seu quarto, abraçou-se em suas bonecas e dormiu, pedindo ao papai do céu que tudo aquilo fosse um pesadelo e que no outro dia tudo voltasse ao normal. Nada voltou. E ela odiou seus pais quando lhe trouxeram uma caixa de chapéus novos, lhe dizendo que o resto de seu cabelo cairia, mas nasceria outra vez. Mais breve do que ela imaginava. Ela odiou seus amigos, os amigos da escola que ela brincava dia-após-dia por perguntarem o que acontecia com ela. Ela odiou o papai do céu por não realizar seu pedido. Não era nada de mais, era seu único desejo. Estar boa, curada, com seus cabelos sedosos outra vez. Mas o pior ainda estava por vir. Seus pais, com caras tristes e preocupadas, vieram lhe avisar que ela passaria um tempo no hospital. A Q não estava funcionando direito e ela precisaria fazer alguma coisa que começava com T... Ela foi. Furiosa, indignada, estava perdendo sua vida. Vieram mais exames – dessa vez em seus pais também -, mais agulhas, mais enfermeiras e médicos. Todos muito gentis, mas todos preocupados. E chegou o dia da T. Seu pai e ela estavam na mesma sala. Ela dormiu e acordou no outro dia, ligeiramente dolorida. Queria ir pra casa, mas o médico disse que ela deveria ficar um pouco mais. Ela contou. Foram três vezes dez. E ela pode ir pra casa. O médico lhe deu um enorme pirulito e disse que ela era uma menininha de sorte, que deveria voltar em alguns dias e seguir uma dieta especial para se recuperar totalmente. Ela, finalmente, estava curada! E ela já podia ver algumas mechas de seu cabelo crescendo. Ele não era liso dessa vez, tinha algumas ondulações. E ela sorriu, em frente ao espelho, penteado os pequenos fios novos que nasciam. Novos como sua nova vida.



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Que país é esse?


Eu estou cheia da futilidade. Cansada do materialismo, infeliz com o falso moralismo alheio. Por que simplesmente pessoas assim não podem explodir? E, sério, é ridículo alguém vir reclamar do cabelo desarrumado pelo vento enquanto tem gente dormindo na rua com um cobertor fino. Pessoas morrendo de frio – LITERALMENTE! Quero saber onde foram parar os humanos. Porque, sinceramente, o que eu mais vejo por aí são muitos robôs e zumbis controlados por dinheiro e status. Queria saber quem é que cresce desse jeito, quem vai adiante desse jeito. Queria saber onde estão os generosos políticos da cidade, queria saber o que eles iam fazer se tivessem que passar um dia embaixo de um toldo de uma loja na Bento. Saber se é confortável dormir em cima da pedra fria, sem nenhuma proteção. Tanto física quanto psicológica. Será que eles esqueceram que saúde, segurança e comida são essenciais na vida de qualquer um? Porque eu tenho absoluta certeza que eles prometeram isso em todas as campanhas políticas! Estamos tratando de pessoas. Merecem uma vida, não uma existência. Merecem uma casa quente, uma educação... E merecem isso sempre, não só perto da reeleição ou eleição partidária. Quero saber quando Pelotas vai, finalmente, parar de assistir seus filhos jogados por aí e agir de alguma forma. É muito fácil fazer careta, baixar a cabeça e passar reto quando se vê algum morador de rua vagando por aí, difícil mesmo é lembrar que ele podia não ser um morador de rua se tivesse tido uma oportunidade. Só que, né? É eternamente mais fácil ignorar... Só que ignorar não muda nada, e o que todos nós precisamos são mudanças!


@AriadneMedeiros